Da faxina para o mundo! [Entrevista Veronica Oliveira, do projeto Faxina Boa]
Publicado em 18/04/2024
Equipe Printi
Faxineira hipster, creator, palestrante e empreendedora - é assim que Veronica Oliveira, 38 anos, do projeto Faxina Boa, se descreve nas Redes Sociais, seu novo ambiente de trabalho. Ela conseguiu crescer, desmistificar a profissão de diarista e hoje fala sobre suas experiências Brasil afora.
Como surgiu o Faxina Boa
Para entender como ela começou a fazer faxina e como a trajetória aconteceu até aqui, é preciso voltar no tempo... Mas bem pouco! Tudo aconteceu muito rápido para a influenciadora. "Faz três anos do dia em que eu tive uma crise que mudou tudo", conta. O caminho até palcos como de eventos do Facebook não foi fácil. "Eu trabalhava numa empresa e a renda não dava para criar minha família. Eu tinha crises de pânico quase todos os dias e tentei suicídio. Fui encaminhada para uma clínica psiquiátrica e lá pensei que precisava encontrar algo que me deixasse feliz e que me fizesse sustentar meus filhos".
Após sua saída da clínica, ela precisou se hospedar na casa de uma amiga e, para ajudar, fez uma faxina. "Ela ficou feliz, eu fiquei feliz e pronto: era isso que eu queria fazer", diz entusiasmada. "Para divulgar, eu fiz um cartão baseado nas minhas séries favoritas" - uma delas, "Better Call Saul" (spin-off da aclamada "Breaking Bad"). Sobrou um espacinho no cartão e ali ela resolveu, sem muita pretensão, descrever seu trabalho. Surgia a marca "Faxina Boa".
Veronica Oliveira: como tudo começou
Veronica cresceu em uma família de classe média na região central de São Paulo e estudou em um colégio do bairro. Ou seja, ela não passou por apuros na infância como tantos brasileiros. O problema é que aos poucos, ela foi vendo todos os amigos se dando bem na carreira, a maioria até morando fora do país e o fato de fazer faxina incomodou. "O que eles vão pensar se souberem que eu estou fazendo faxina?", se perguntou.
Contudo, o que importava mesmo era o sustento de seus rebentos, sobre quem fala extremamente orgulhosa. "Tenho dois filhos. A Claire, de 19 anos, que é das artes, das miçangas, good vibes", brinca, "e o Ian, que chamamos de Panda, que tem 11". O mais novo está no espectro autista, diagnosticado com Síndrome de Asperger e é muito focado em tecnologia. "Provavelmente vai ser alguém que vai fazer músicas para jogos. Já vou colocá-lo pra fazer a trilha do meu canal do Youtube".
As dores de ser uma empregada doméstica
Sobre a preocupação com o que as pessoas acham da profissão de diarista, hoje ela é categórica: "Foi um breve momento de me preocupar com a opinião alheia, mas eu precisava fazer o que era necessário e segui em frente com a minha escolha".
Muita gente questionava se ela não tinha vergonha de fazer faxina - não à toa. De acordo com a Agência Brasil, atualmente são 6,3 milhões de trabalhadores domésticos no país: 1,5 milhão com carteira de trabalho assinada e 2,3 milhões na informalidade. Do total, 2,5 milhões trabalham como diaristas.
A profissão é muito desvalorizada e é comum ser a última opção para quem precisa de uma fonte de renda. "As pessoas têm preconceito. Já me falaram que eu era muito bonita para fazer faxina. Isso é preconceito, não é um elogio", diz com indignação. Mesmo assim ela ergueu a cabeça e fez com que o exercício da profissão fosse realizado da melhor forma.
"Causos" da rotina de diarista no Faxina Boa
No cotidiano de alguém que trabalha como diarista, muita coisa pode acontecer e com Veronica Oliveira não foi diferente. "Já aconteceu muita coisa: eu quase caí de janela, já sofri acidente de trabalho… Uma cliente mediu o lençol com uma trena e explicou o quanto ele tinha que estar de cada lado. As coisas tinham que ficar milimetricamente no lugar", relembra. "Essa mesma pessoa achou que eu tinha que descer com o cachorro pra fazer xixi… Enfim, não voltei mais".
Veronica tem muita história para contar! Algumas delas, hoje, já são motivo de piada. "Eu estava limpando uma casa muito silenciosa e tinha um cachorrinho muito tranquilo, mas pisei num brinquedo e ele pulou em cima de mim. Eu gritei, caí, ele latiu… Na hora foi ruim mas agora eu lembro e foi muito engraçado", conta aos risos.
Trajetória profissional como influenciadora do Faxina Boa
Como falamos no começo, todas as coisas no Faxina Boa aconteceram muito rápido. "O primeiro post já viralizou e dois dias depois já dei minha primeira entrevista", rememora. "Na segunda semana de faxina, a entrevista foi ao ar. Em novembro eu fiz a primeira faxina e em março eu fiz meu primeiro comercial".
Fazer sucesso nas Redes Sociais não é fácil. Existe um mar de gente surfando na onda das oportunidades que a internet proporciona. Porém, a hoje influenciadora decidiu se empenhar. Ela identificou em si um perfil empreendedor e foi atrás do que queria.
"Uma dica para quem começar um novo negócio é: perceba o que você quer fazer, se isso vai te fazer feliz e, se for, estude o máximo possível. É muito gostoso ter um feeling de que algo vai dar certo, mas estudar é muito importante", explica Veronica, que hoje já é palestrante e por isso tem o know how para aconselhar. "O estudo é a formalização do trabalho, é o carinho de preparar tudo". E completa: "Acho interessante quando falam que o trabalho é rústico. Não existe isso, isso é trabalho mal feito! Se especialize, faça bonito, faça com qualidade".
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A importância de se tornar "profissa"
Em 2018, Veronica começou a crescer nas redes sociais. Além da conta que ia superbem no Facebook, ela criou uma conta no Instagram e fez o primeiro contrato grande (com o Banco Bradesco). Já não dava para seguir como faxineira com um cartão de visitas improvisado. Era preciso ter material profissional.
Como as pessoas contratavam o serviço raramente estavam em casa na hora da limpeza, Veronica achava a relação muito fria. Aí teve a ideia de tornar a comunicação mais humana e deixar bilhetinhos escritos à mão antes de ir embora. Um cuidado que talvez tenha feito a diferença em um mundo tão digital.
Ainda mais porque tomou a decisão de empreender e fazer o negócio crescer. "A minha ideia é justamente trazer um serviço diferente. Temos ideia de trazer produtos sustentáveis nas faxinas e deixar sempre bilhetes personalizados". Hoje ela tem duas funcionárias que fazem o trabalho que antes ela fazia sozinha.
Veronica investiu também em uma assessoria já que começou a fechar parceria com várias marcas - uma delas, a Printi! - e aí parou de fazer faxina, um ano e meio depois. "Fiquei chocada de saber que as pessoas me conheciam", conta. "Mas quando percebi que tinha marcas grandes me apoiando eu notei que podia usar isso para ajudar outras pessoas. E é o mínimo que eu posso fazer! Parte do dinheiro que eu ganho, invisto em educação e parte eu separo para pessoas participarem disso comigo".
O futuro do Faxina Boa
Talvez pela velocidade na qual as coisas se deram, as pessoas ao redor descobriram por ela o que estava acontecendo com sua carreira. "As pessoas que me explicavam o que eu fazia, sobre gerar engajamento com uma comunidade específica". Pessoas com trabalhos informais que se sentem fora da bolha do sucesso precisavam ser representadas. "Ser uma pessoa relevante para essa comunidade foi uma descoberta muito interessante", conta.
Sobre o futuro, as coisas estão caminhando para o crescimento. "A primeira vez que me chamaram pra participar de algo [no projeto "Ela Faz História") foi muito inesperado", diz. Hoje já são tantos eventos que o aeroporto já é quase rotina.
"Eu tinha pavor de ser porta-voz de alguma causa. Mas conheci uma pessoa que tinha trabalhado como empregada doméstica e tinha se tornado uma grande artista. Isso me emocionou" - e provavelmente deu o impulso que Veronica precisava. "Conhecer a Joyce Fernandes, a rapper Preta Rara me fez ver que eu podia ser essa inspiração para outras pessoas. Passei a entender que tinha a responsabilidade de dar visibilidade para as pessoas", diz orgulhosa.
"Essa é minha causa"
Sobre a forma que enxerga o trabalho de empregada doméstica depois de tudo isso, ela estufa o peito para falar do emprego que sustentava sua casa até um passado bem recente: "Nosso trabalho não define quem nós somos. Somos importantes na sociedade e não merecemos ser chamados de subempregados".
"Essa é minha causa: mostrar que nosso trabalho é importante. Promovendo mudanças pequenas, podemos trazer novos comportamentos para a sociedade. Eu hoje já me considero uma palestrante e percebo que sou uma agente social. isso é muito bonito! Eu saí de um contexto onde tudo me levava ao fracasso e agora posso mostrar para as pessoas outro caminho", finaliza.
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Publicado em 18/04/2024