Entrevista com Julia Cruz [Curadoria de Projetos de Design] #33

Em 21 de abril é celebrado o Dia Mundial da Criatividade e Inovação. Essa data evidencia a capacidade humana de pensar fora da caixa, encontrar soluções inovadoras para problemas complexos e criar novas possibilidades. Nesse dia tão especial, você vai conhecer a sergipana Julia Cruz, grande referência para quem busca inspiração.

Formada em Desenho Industrial pela Universidade Federal Fluminense, Julia trabalha como fotógrafa e designer há 7 anos. Já atuou como produtora executiva de projetos audiovisuais, assim como no setor de arte das produções. Hoje, trabalha principalmente junto a artistas da música, produzindo capas e identidade visual para campanhas de lançamentos dos seus projetos.

Da cultura sergipana

Os pais da Julia são jornalistas e trabalham com fotografia desde os anos 90, por isso, ela cresceu mergulhada num mundo visual e auditivamente estimulado. "Tenho memórias visuais vivas de momentos marcantes da minha vida, assim como de músicas que são trilhas de passagens importantes. Sinto que foi uma preocupação dos meus pais, me apresentar a cultura sergipana e toda sua riqueza. Felizmente tive o prazer de conviver com muitos artistas pela proximidade e amizade dos meus parentes. E hoje, vejo o quanto isso foi e é importante na construção dos meus trabalhos", diz.

Aos 18 anos, a designer se mudou para o Rio de Janeiro e foi inserida numa cidade que recebe, com muito mais frequência, arte do mundo todo e também tem uma riqueza cultural incrível. "Eu tentei ao máximo aproveitar as oportunidades de assistir, ouvir e ver: peças, exposições, shows, performances e espetáculos. Me recordo da felicidade de expandir esse universo e o quanto isso me mudou e mudou meu produzir", confessa.

Da cultura sergipana, a busca por referências visuais se ramificou em plataformas diferentes, que costumam ter caminhos distintos e ampliam o processo. "Ouço muita música, busco as que me remetem ao sentimento e linguagem que aquele projeto possui. Também costumo conversar com amigos, discutir o tema, ajuda muito ouvir referências e olhares diferentes", recomenda.

Além disso, nada como respeitar o tempo para as coisas. "Seja quando estou num momento difícil de desenrolar uma ideia ou de muita produção, levanto, caminho pela casa, converso com quem está por perto e depois volto. E na hora de definir o tempo de produção num orçamento, eu conto com isso. Projetos que demandam mais criatividade, precisam de mais tempo. Mas com experiências, fica cada vez mais fácil usar as ferramentas que temos para otimizar e deixar esse processo mais fluido", conclui a estratégia.

Fotografia e Design

O que a junção das habilidades como designer e fotógrafa significa? possibilidades. 

"No curso de Desenho Industrial, eu tive contato com muitos segmentos do Design. Mas quando eu comecei a trabalhar com fotografia de espetáculos de teatro em 2017, parece que as coisas tomaram um lugar mais consciente e seguro do que queria. Apesar de ficar com um receio grande de fazer muita coisa e ao mesmo tempo, não fazer nada, eu percebi que eu tenho muitas ferramentas. A cada trabalho que eu faço, eu uso um pouquinho de tudo que aprendi", afirma Julia.

Quando precisa construir algum projeto, registrar um show, ou até mesmo uma sessão de fotos para capas de disco, ela pensa nas cores, posicionamentos, objetivos, linguagens etc, pensar associado virou um exercício. "Isso fica muito palpável quando pensamos nos softwares que usamos para trabalhar, eles se comunicam, trabalham em conjunto para enriquecer os produtos finais. Um toque que faço em alguns projetos de design é trazer algo de fora do virtual para acrescer naquela ideia, e a fotografia é a ferramenta que eu uso. Ela se torna via de captar, por exemplo, uma textura, um sketch, um elemento. Essa relação acontece também quando planejo e fotografo uma imagem, o design está presente na pós-edição dela, nas decisões estéticas que tomo, de destaque dos elementos, tons, correções", descreve o processo.

Criatividade e inovação no Design

Apesar das duas palavras significarem o diferente, o novo, para a Julia tem tudo a ver com transformar. "Nós estamos sob constante influência no mundo, ainda mais com redes sociais, isso tomou uma proporção muito maior. As informações estão circulando com mais velocidade. Então como fazer algo que não existe no meio disso tudo? A minha resposta é: crie e inove no seu método. Apesar das inúmeras metodologias que existem, ninguém segue os mesmos passos para produzir. Esse seu caminho vai trazer resultados criativos e inovadores", garante.

De acordo com a designer, nós nos identificamos com algo porque temos referências anteriores sobre aquilo, então a similaridade não é negativa, é via de associação de sentimento. Sendo assim, ela consomo muito o que está ao seu redor: placas, anúncios, cartazes. Naturalmente, se interessa pelas linguagens diferentes dos bairros, estabelecimentos. "Como tenho trabalhado com mais frequência com músicos para as divulgações dos seus projetos, tenho dado atenção a acompanhar artistas e suas redes para ver as suas abordagens. Gosto de ouvir o álbum completo na ordem pensada, ver o material visual que o acompanha, assistir entrevistas", comenta. "Além disso, uso constantemente plataformas como Behance, Pinterest, e o próprio Google. Saber pesquisar é crucial. As palavras certas te mostram os melhores caminhos".

Bora Lá Bailar

A união entre criatividade e inovação deu origem ao "Bora Lá Bailar", um dos projetos preferidos da Julia. "Eu gosto muito do projeto que fiz para a capa e divulgação do single 'Bora Lá Bailar' do artista Alex Sant’Anna. Eu escuto Alex desde 2004, quando ele lançou o álbum 'Aplausos Mudos, Vaias Amplificadas' (ainda tenho esse CD físico), e desde 2021 venho produzindo com ele capas de singles, álbuns, cartazes dos seus shows, canecas, blusas. E essa música em específico, que já era a minha preferida do álbum 'Baião Amargo' de 2020, tem uma letra muito linda que me inspirou e enriqueceu muito a construção do lançamento do single", conta.

"Quando Alex me disse as motivações e ideias para essa versão Afrobeat, decidimos fazer uma ilustração e logo me veio a ideia de usar uma foto que fiz no povoado da Mussuca, localizado no município de Laranjeiras-SE. Na ocasião, o evento Aldeia Sesc estava recebendo o grupo de Samba de Pareia, liderado por Dona Nadir. A música fala sobre movimento, sobre dança, sobre agir. Pra mim esse trabalho tem esse significado. A ilustração, as cores, a música e as vozes movem", se orgulha.

Nesse projeto, a Ju explorou a ilustração digital, que hoje é uma ferramenta que usa frequentemente, e o resultado a deixou muito feliz. Tanto que resolveu mostrar o processo de produção nas redes sociais e até hoje recebe feedbacks positivos.

Curtiu? Não deixe de acompanhar a Julia Cruz no Instagram e conhecer de perto o universo artístico da sergipana! Aproveite para dar play no single Bora Lá Bailar. ?